Algumas pessoas mantêm relações para se sentirem integradas na
sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas,
para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça.
Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com
outra pessoa; à vontade para concordar com ela e discordar dela, para
ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar,
pregado.
Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de
mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você
prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país
distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos
dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se
produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara
lavada e bonita a seu modo.
Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas
suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças
que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem
demais, mesmo em casa, principalmente em casa.
Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num
momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de
melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico,
para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho
e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo,
cientes de que o mundo não se resume aos dois.
- Drauzio Varela -
terça-feira, 24 de julho de 2012
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Chutando o Balde
Chutei o balde. Bem chutado. Assim, chutado, chutadíssimo. Nem Romário daria tão belo lance. Certeiro, com força; mandou o maldito pra bem longe. Coisa rápida, veja bem. Foi em uma daquelas sinucas de bico, que o jogo vira nos quarenta e cinco do segundo tempo e precisa-se pensar na velocidade da luz. Me saí bem, admito. Chute mais certeiro não haveria de ter dado. Foi-se, e nem quero saber onde ele parou.
Já chutei o balde outras vezes. Digamos que é relativamente fácil. Adquire-se prática com o passar do tempo. Alguns chutes vêm em fórmulas depois de certo período. Em algumas ocasiões é tão fraca a jogada que nem se percebe que foi cometido o ato novamente. Variações para um mesmo resultado, confesso.
O que ninguém nos conta é que é muito mais difícil chutar o balde quando ele contém água dentro. É amigo, isso faz toda a diferença – nem queira saber. Desperdiçar essa água, por si só, já é um pecado. Era pra ela ficar ali, guardadinha, pra mais além aumentar de volume… Mas não, fui forçado a jogar ela fora, e assim, num de repente! Se fosse aos pouquinhos ainda era mais fácil, com jeitinho tudo se ajeita, não é mesmo? E a água, sendo arrancada violentamente do seu recipiente, ficou jogada pelo caminho, o que não significa que ela secou. Deixar ela assim, viva e abandonada, me causa tanta pena.
Embora, sei bem eu, ela há de secar. Mais dia, menos dia…
O problema é que o balde tende a querer trilhar o caminho de volta. Aham! Nos força a enviá-lo pra onde Judas perdeu as botas e depois quer desfazer todo o esforço. Ah, balde. Assim enfraquece a amizade… Pois bem, ao coitado só desejo boa sorte: vai que nessa volta ele consiga encontrar a água que desprezou. Ou pelo menos o que restou dela.
Não sei, mas ando pensando em encher meus próximos baldes com Vodka.
- Por Karen Rodrigues -
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